Para vencermos nossas batalhas diárias, o tempo muitas vezes é curto para tantos compromissos. Mas vale a pena gastarmos alguns minutos com a reflexão que Mário Sérgio Cortella faz em seu livro “Não nascemos prontos! – provocações filosóficas”. Cortella desenha seus pensamentos em torno da afirmação de Guimarães Rosa que diz: “o animal satisfeito dorme”,analisando de forma profunda a monotonia existencial à luz desta frase que parece um tanto óbvia.
Em sua reflexão, Cortella diz que a condição de conforto e saciedade nos leva à sedução do repouso, imobilidade e acomodação. Perdemos substância e energia vital. A satisfação encerra, não deixa margem para a continuidade. Ela acalma, limita, amortece. E isso não quer dizer que não estejamos correndo contra o relógio todos os dias.
Cortella discorre sobre como deveríamos nos assustar ao ouvir: “fiquei muito satisfeito com você ”ou estou muito satisfeito com o seu trabalho” ao considerar que esta afirmação significa que nada mais de mim se deseja ou o ponto atual é o meu limite, minha possibilidade. Está bom como está? Isto deveria ser apavorante!!! Afinal, quer dizer que desse jeito já basta?
O agradável deveria ser: “Gostei do seu trabalho/ nota/ carinho/ comida/ aula/ texto/ música, mas fiquei muito insatisfeito. Quero mais, quero continuar e conhecer outras coisas. O dito popular “tudo o que é bom dura pouco” confirma a insatisfação gerada por tudo o que nos é agradável. Um bom filme ou um bom livro ao acabar, deixa sempre um gostinho de quero mais. Festas, jogos, passeios inesquecíveis são sempre os que desejamos prolongar.
Com a vida de cada um(a) também deveria ser assim. Nascer pronto e acabado não trás novidades, apenas reiterações. Isso não ocorre com gente, e sim com fogão, sapato, geladeira, diz Cortella. Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta, e vai se fazendo. Considerar que estamos prontos é uma limitação que nos obriga a apenas repetir e nunca inovar.
Estar satisfeito consigo mesmo é considerar-se uma obra acabada. Precisamos desejar os retoques. Aprender sempre nos impede de sermos prisioneiros em situações que, por serem inéditas, não saberíamos enfrentar.
Cortella afirma: “Eu, no ano que estamos, sou a minha mais nova edição (revista e, às vezes, um pouco ampliada); o mais velho de mim (se é o tempo a medida) está no meu passado e não no presente”.
Afirma ainda: “Somos seres de insatisfação e precisamos ter nisso alguma dose de ambição; todavia, ambição é diferente de ganância, dado que o ambicioso quer mais e melhor, enquanto que o ganancioso quer só para si próprio”.
Acreditamos que o texto trazido, pode ser de grande valia a cada um de vocês que fazem parte da família CEIFLORA.